ANÁLISE. Ken Parille, no The
Comics Journal, escreveu um artigo sobre a arte de Steve Ditko, apoiado em
três tópicos: “Abstração”, “Palavras vs. Desenhos” e “Movimento”. Não se
contente com o trecho aí de baixo: o artigo se apoia bastante em suas imagens, já
que as explicações são complementaras por análises de páginas. O que segue é
apenas uma AMOSTRAGEM do tópico Abstração:
Ainda que a arte de Steve Ditko sempre tenha sido representacional,
diversas vezes usa os desenhos mais abstratos dos quadrinhos mainstream. O seu interesse na abstração aparece em
suas conhecidas histórias do Homem-Aranha e do Dr. Estranho, mas especialmente
em trabalhos mais desconhecidos como "The Dimensions of Greed", da antologia Time Warp #3, publicada no início dos anos 80 pela DC
Comics. Nessa história, a arte de Ditko usa um espectro vertiginoso de formas
líquidas, angulares, geométricas e exageradas, todas desenhadas com senso de
humor, até mesmo malícia. Enquanto o seu trabalho freqüentemente trata de temas
pesados (crime, justiça, etc.), também recorda as tradições mais leves e
engraçadas dos quadrinhos. Existe uma verdadeira satisfação em sua abstração.
BURNS #3. Grace Krilanovich resenhou, de novo no The Comics Journal, resenhou The
Hive, o novo gibi de Charles Burns.
The Hive faz referência às caricaturas étnicas pré-politicamente-correto dos
quadrinhos de Tintin e apresenta um reino de fantasia orientalista que é
confuso e desorientante de propósito. Em Nitnit, palavras, rostos, papéis e
costumes são indecifráveis. O conforto do reconhecimento é parcialmente
desmontado. Quase parece um lugar em que poderíamos morar, e isso só faz tudo
mais problemático já que temos que nos esforçar para encontrar uma forma de dar
sentido às lacunas, onde somos traídos. A confusão de Johnny 23 é também é a
nossa. Os lagartos Aggro que repreendem você toda hora certamente não são de
ajuda.
TERRA UM. Jevon Phillips, do Hero
Complex [o blogue de quadrinhos do Los
Angeles Times], entrevistou J. Michael Straczynski. O tema: Superman: Earth One. Lembre do meu comentário e veja essa resposta:
Esse é o ponto sobre o Super-Homem: ele é o cara mais poderoso do
planeta dentro do Universo DC. Mas, nas últimas décadas, outros universos de
quadrinhos surgiram com dúzias de personagens com poderes no mesmo nível.
Então, ainda que ele seja único dentro do Universo DC, ele não é mais único
fora disso. Então, o que faz dele único? O que faz ele interessante além do
fato dele ser muito, muito forte? Essa pergunta me levou a querer definir Clark
de forma a fazê-lo mais interessante e imperfeito como pessoa. Não de uma forma
escura, má, cínica, porque isso é fácil demais. Mas como um verdadeiro
forasteiro que tem um coração vulnerável. Queria enfatizar a solidão de um
garoto que cresceu sabendo como ele era diferente de todos os outros, que tinha
que manter distâncias para proteção dos outros e para sua própria. O que se
relaciona com o elemento que parece ter trazido novos leitores, a maioria deles
próximos dos 20 anos. Nessa idade, todos nós estamos tentando descobrir como
diabos nos encaixamos no mundo, com os outros e com os nossos sonhos. Clark não
é diferente disso nessa idade. Se fazem alguma coisa, as suas habilidades
extraordinárias deixam isso mais difícil. O Clark Kent/Super-Homem tradicional
tem o queixo erguido; esse Clark é um pouco tímido e inseguro sobre si mesmo,
assim como o mundo a sua volta está inseguro sobre quem é esse cara e o que ele
quer.
UMA COISA É UMA COISA. Pra fechar, tem essa coluna de Dandara
Palankof para a Revista O Grito,
sobre quadrinhos e literatura. O CERNE:
Ainda assim, mesmo com o conhecimento de que o vocabulário gráfico dos
quadrinhos transcende a utilização de letras e palavras (muitas vezes prescinde
delas), muitos admiradores e estudiosos continuam a querer, no meio acadêmico,
o reconhecimento das histórias em quadrinhos enquanto literatura. Prova disso é
a Jornada de Estudos Sobre Romances Gráficos, realizada pelo mesmo Instituto de
Letras da UnB que abandonei há alguns anos [...]. O evento teve, em 2012, sua terceira edição. E por mais que me agrade
ver as histórias em quadrinhos finalmente sendo discutidas de forma gabaritada,
fico me perguntando se os literatos não se perguntam até onde podem expandir o
conceito de literatura sem que ele perca o significado.
Faço um gancho, partindo de um
momento anterior da mesma coluna:
Eu teimava em procurar no discurso [que dizia que quadrinhos e
literatura não eram a mesma coisa] algo que
mostrasse seu apreço pela literatura enquanto forma elevada, colocando as HQs
enquanto arte popular menor. Foi quando me toquei de que éramos nós, mesmos,
leitores, fãs e apaixonados por quadrinhos, que estávamos caindo nessa
esparrela. Em nosso afã de vermos o objeto de nosso apreço como sendo digno
desse tal “valor”, acabamos deixando que a confusão nos levasse a aspirar
pertencer a uma categoria da qual nunca fizemos parte.
Esse “complexo de inferioridade”
dos quadrinhos tem um reflexo concreto: qualquer artista meia boca de outras
formas ganha status de estrela quando faz quadrinhos – talvez o melhor exemplo
seja, precisamente, o EX-ROTEIRISTA DO HE-MAN J. Michael Straczynski
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