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Sexta-feira, comentei aqui, só
que no MEMÓRIA, sobre o movimento nérdico-literário: a geração de leitores de
quadrinhos que cresceu para se tornar escritores de literatura sofisticada – e
citei os exemplos de Michael Chabon, Jonathan Lethem e Junot Diaz.
Aquela postagem acabou se
tornando parte de uma espécie de CONJUNÇÃO CÓSMICA: nos últimos dias, dois
desses três escritores deram as caras na GRANDE IMPRENSA, graças ao lançamento
de novos livros.
Um deles é Michael Chabon, homem
por trás do excelente As Aventuras de
Kavalier & Clay [editado no Brasil pela Record, o livro, que ganhou o
Pulitzer de ficção em 2001, conta a história de dois jovens quadrinistas
durante a década de 30/50] e um dos roteiristas de Homem-Aranha 2, que lançou Telegraph
Avenue – o que gerou uma pá de resenhas, quase que uniformemente positivas.
Pra ficar em duas, no Financial Times, Peter Aspden escreveu
essa, que em três linhas denunciou as raízes nérdicas do livro: Chabon situa a sua ambiciosa trama entre os
detritos do pop blaxpoitation da metade dos anos 70, sendo de ajuda estar
familiarizado com Star Trek, Marvel
Comics e filmes de Tarantino (pense em Jackie Brown).
As raízes também brotaram na calçada dessa resenha
de Sam Sacks, do Wall Street Journal: A
exuberante capacidade da prosa do Sr. Chabon [...] nasce de um amor nostálgico por quadrinhos e ficção de gênero. Essa
nostalgia algumas vezes pode temperar a graça de "Telegraph
Avenue" com uma sensação de
frivolidade. Existem diversas piadas-internas para nerds (a luta de Gwen contra
os hormônios durante a sua gravidez é, evidentemente, como "Spock
batalhando a loucura de acasalamento do pon farr"), assim como floreios
cinematográficos sentimentais como frases-feitas e taglines [...]. O hábito mais chamativo do Sr. Chabon é
começar um parágrafo com a primeira metade de uma linha de diálogo e então
inserir uma pausa dramática que lembra um painel de uma história em quadrinhos
-- você praticamente consegue imaginar os balões de fala.
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Um FÃ DE STAR TREK chamado de SENHOR pelo WALL STREET JOURNAL. Que tempos são esses? |
Se isso não te foi suficiente, tome
mais essas três, em ordem de extensão, de maior a menor: [1] Carolyn Kellogg,
no Los Angeles Times [para quem o
livro é “tão exuberante que é como se
Michael Chabon puxasse a alegria do ar e a esmagasse no formato de palavras”],
[2] Attica Locke, no Guardian, e [3]
Mary Evans, no Publishers Weekly [não
apenas a menor, mas também a mais negativa].
Já o outro é Junot Díaz, escritor
de A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao
[também lançado no Brasil pela Record, e também ganhador do Pulitzer de ficção,
em 2008], que teve publicado nessas últimas semanas o livro This Is How You Lose Her.
O livro [uma coletânea de nove
histórias] rendeu, já de cara, uma entrevista para o Los Angeles Review of Books, conduzida por Gregg Barrios. Dela, vou
tirar pra ti uma PROVA de nerdismo:
GB: Finalmente, sempre perguntam quais são os novos livros que você
está lendo. Mas quais são os novos jogos de video game ou novos filmes nos
quais você está imerso? (Ah, em Monstro,
o nome do personagem Mysty é uma
referência ao meu jogo favorito, Myst, dos
anos 90?)
JD: Estou jogando os novos jogos de Walking Dead que estão saindo um capítulo de cada vez.
Você viu isso? É incrível. Eu adoro Myst.
Esse jogo me deixou pirado. Mas o nome Mysty eu peguei de um amigo.
À entrevista fizeram companhia
diversas resenhas. Dan Ochwat, do Chicago
Sun-Times, escreveu essa, que te dá mais detalhes sobre a lógica do livro:
A coletânea apresenta mais do estilo enérgico e hip-hop de Díaz --
principalmente, transcorre ao redor de um personagem, um dominicano de Nova
Jersey cabeça-dura e apaixonado por ficção científica chamado Yunior. De uma
forma difícil de resistir, o livro poderia ser chamado de "A Episódica e
Imatura Vida Amorosa de Yunior".
Já a de Sukhdev Sandhu, do The Telegraph, foi mais hiperbólica:
Como todos os grandes livros, This Is How You Lose Her te dá vontade de fazer uma purga. Você quer
passar pelas suas estantes e rasgar cada um dos outros títulos que você comprou
por engano: cada Grande Novela Americana, cada sátira levemente maltada sobre
socialites artês na Manhattan moderna, cada saga imaculadamente estruturada e
meticulosamente traçada sobre baseball como uma metáfora para a vida.
A coleção de histórias curtas de Junot Díaz é tão aguda, obscena, crua
em emoções, e tão imersa na linguagem e nos ritmos da vida do trabalhador
Latino que faz com que a maioria dos escritos que atravessam o Atlântico
pareçam irremediavelmente desidratados em comparação.
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Pelo menos, nenhuma das resenhas sobre o livro dele te fazem sentir na TWILIGHT ZONE |
MAIS AINDA? Então tome duas e vá embora que o seu segundo já acabou: [1] Lorien
Kite, do Financial Times, e [2] Nicole
Aragi, do Publishers Weekly.[“crua e honesta, essas histórias pulsam com
um rouco hip-hop de gueto e com o mais sutil, porém mais vital, eco do coração
humano”].
Vá embora, eu disse!
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